Eu tenho saudade de tantas coisas boas e tantas coisas vãs. Por isso descrevo, anoto tudo, assim completo o meu álbum mágico da felicidade...

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Fico imaginando.


Fico imaginando... Quando eu não puder seguir mais uma linha reta, acertar um corte com a tesoura, andar até o interruptor para apagar uma luz, botar a água do café no fogo, enxergar as letras miúdas do livro, me abaixar para pegar um papel no chão e afagar miúda a cabeça de um cachorro. Quando eu não puder mais me segurar sozinha sem ter que me apoiar em um vão de escada, quando não puder mais levar o garfo à boca e quando as pessoas começarem a olhar com pena para mim. Imagino o dia que uma noite vai chegar e eu não vou mais conseguir fechar os olhos de tanta vontade de levantar para olhar o luar, mas não vou querer incomodar ninguém. O dia em que eu vou precisar das pernas alheias para me levar pra algum lugar e eu não puder mais fazer meu próprio caminho. Não puder mais escolher as minhas roupas, nem amarrar os meus sapatos, nem ao menos ir até a janela por vontade própria e meus lábios de tão secos nem sentirem mais um beijo. Ficar sem utilidade. Na inutilidade. Contar “estórias da minha cabeça”, ficar com as mãos trêmulas e ter os olhos semi-abertos e parados. O dia em que respirar vai ser muito mais difícil do que um dia foi dizer um eu te amo sem estar sendo realmente sincera, o dia em que minhas palavras não valerão mais, que eu olhe aquela velha foto com uma menina magrela e sardenta e perceba que meus traços já foram todos apagados e que serei tratada simplesmente como velha. Fico aqui imaginando.

4 Expressão(ões):

Gustavo disse...

Você faz cinema é?
E é de Recife também?
Se viu o Curtablog ou é coicidência, ou é provável que conheça o Kleber Mendonça.

Gosto muito de Recife e muito de cinema.

Veja meu outro blog quando puder
www.cineasta81.blogspot.com

Gustavo disse...

A propósito,
Eu estava pensando sobre isso outro dia, sobre a velhice, como a gente vai se tornando desnecessário aos poucos, acho que é por isso que é preciso perder a necessidade das coisas e das pessoas, a desapegar-se, pra quando chegarmos nessa idade, estarmos quites.

Eu comecei a pensar isso por ter visto uma velhinha doente sendo cuidada por uma enfermeira, me botou pra pensar, tomara que eu tenha saúde ao menos.

aluadaa disse...

cada dia que se passa você esta mais velha e mais esperta, e aqueles erros que aconteceu no passado esta superado, e "curado"... fica imaginado tu cheias de neto numa fazenda com um por do sol e quando ele estiver saindo a chva chegar e você e todos aqueles no qual você ama de verdade tomem um banho de chuva pra lavar a alma, como disse Elis Regina, "eu quero uma casa no campo... onde eu possa plantar meu amigos, meus disco e nada mais!"

pensa no hoje, porque hoje já é passado e o passado já não exite. e o futuro... deixa pra amanhã!

Gabriela Alcântara disse...

estava pensando nisso agorinha... espero, ao menos, que não nos olhem com pena :/
xêro