
"Ou somos uns eternos palhaços a caminhar em busca do que talvez só seja melancolia e desatino...?"



Nas folhas rasgadas
Dos cadernos amassados
Estavam aqueles teus versos
Contidos daqueles sentimentos
Palavras de cansaço
De amor embriagado
De duas vidas enganadas
Se nos amamos ontem
Nas areias, de frente pro mar
Na ultima tarde de sol da ultima quarta-feira...
Foi sonho!
E saudade de te amar
Meu amor...
Quando a moça, vestida naquele vestido branco, vira o seu reflexo no espelho, começava a sentir-se um pouco mais atraente, gostava de se observar, ver suas faces e delineadas curvas, coisa que ninguém jamais imaginara, nem ela, sentia imenso prazer e queria ser amada, encontrar outro que pudesse contorna-la e rabisca-la e fotografá-la, mas ela sabia que indiretamente alguma coisa maior tomava toda essa sensualidade e colocava a perder curvas e gestos, tinha medo e receava não ser tão bela e tão apreciada, não o quanto gostaria, e sempre ao tentar ousar, algo saía errado, nem sabia mais se era mulher, porque agora ficava horas vendo futebol e filmes proibidos à noite, e era nessas horas que precisava mais ser amada, ser tomada a cama, ter seu corpo desenhado, e liberar suas noites mal dormidas... Queria seduzir, tornar alguém em chamas, transformar todo esse medo em prazer, e depois dormir... e de manhã acordar, escutar um bolero, arrancar-lhe à força os lençóis e... a noite se deturpar com todos os seus insaciáveis desejos, e tornar-se mais uma. Despir-se de seu vestido branco, afrouxar-lhe os cabelos e ser de novo alguém que precisa de amor...
Quero que você saiba uma coisa
Você sabe como é:
Se eu olhar a lua de cristal, pelo galho vermelho
do lento outono em minha janela,
Se eu tocar, próximo ao fogo, a intocável cinza
ou o enrugado corpo da lenha,
tudo me leva a você,
como se tudo o que existe: perfumes, luz, metais,
fossem pequenos barcos que navegam
rumo às tuas ilhas que me esperam.
Bem, agora,
se pouco a pouco você deixar de me amar
eu deixarei de te amar, pouco a pouco.
Se, de repente, você me esquecer
não me procure
pois já terei te esquecido.
Se você considera longo e louco
o vento das bandeiras
que passa pela minha vida,
e decide me deixar na margem do coração
em que tenho raízes,
lembre-se que neste dia,
nesta hora,
levantarei meus braços
e minhas raízes sairão a buscar outra terra.
Mas
Se cada dia,
cada hora,
você sentir que é destinada a mim
com implacável doçura,
se cada dia uma flor
escalar os teus lábios a me procurar,
ah meu amor, ah meu próprio eu,
em mim todo esse fogo se repete,
em mim nada se apaga nem é esquecido
meu amor se nutre no seu amor, amada,
e enquanto você viver, estará você em seus braços,
sem deixar os meus...